quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Monte Fuji-san








Saindo às 5h: 00min da manha de uma terça-feira de agosto de 2013 para ir ao tão famoso (yume) Monte Fuji, ou Fuji-san, como conhecido no Japão. O sol já se fazia presente e prometia aquecer o acompanhamento das horas do dia. Às passagens de um trem a outro trem, mudavam-se o ritmo do movimento. Não do trem, das pessoas. Ora mais lentas, ora mais rápidas. Em lugares aumentavam as presenças, em outros diminuíam. O trem, nos interiores, oferece a calma de um embalo de berço. Os sons emitidos transportam para um mundo de filmes; como se você estivesse assistindo a uma cena em 3D. Na verdade, eu estava vivendo uma cena real em muito mais dimensões! O trem, os sons, o embalo, a paisagem montanhosa. Perfeito! Chegada ao predestino às 13h: 30min, saída para o destino de fato, às 14h: 55min. O caminho se fez comum até o ônibus alcançar aos arredores do Fuji-san. Ali você houve o silencio. A Floresta Aokigara [青き柄]. Também conhecida como Floresta dos Suicídios reserva, não apenas em seu interior, mas em seu todo, o que se diz por silencio. Lá, você o escuta. O silencio se faz imponentemente; indiscutível. Senhor do seu espaço e tempo. Nem mesmo os elementos naturais, como o vento, ousam desafiá-lo. A sensação é para ser sentida, e apenas, sentida. É uma sensação densa e magnânima, que pode ferir a fragilidade de alguém que a desafie permanecer com ela. Como todos os sentimentos, sensações e momentos, a floresta Aokigara. deve ter seu tempo respeitado a cada pessoa, a cada situação de se estar lá.  Ou, não se estar. Subindo a montanha, o tempo vai ficando cada vez mais nublado, chuvoso. Chegando a Base escolhida [gogome] para começar a caminhada, às 16h: 30min, o tempo está fechado. Mal se vê a própria montanha! A equipe de turismo não deixa subir, pois a temperatura está prevista para menos 10˚C próximo da 1h da manha. Tenho que aguardar até às 20h... então, vamos esperar. Uma conversa aqui, outra ali. As pessoas chegando aos números. Vários alongamentos e momentos de meditação. Sim, meditação! Uma musica. Uma prática de taiji...e assim passaram as horas, à subida foi liberada a partir das 19h para quem iria até o cume. São sete estações a partir dali. Eu estava na quinta. São 7,5 km, ou 3776m para cima, nesse momento! A noite está iluminada apenas por lanternas e o tempo continua nos acompanhando com chuviscos. O olhar fica concentrado apenas no foco da lanterna. A cada hora se precisa estar atento a localizar o terreno e onde colocar cada pé, no meu caso, mais dois bastões para auxiliar. Escorregões fazem parte desse cotidiano, mas além das pedras, pouco se vê ao inicio da subida noturna. Não é indicado ficar olhando para os lados!  Algumas pessoas sobem conversando, rindo... até chegar a primeira(sétima, no total) estação, depois dali as conversas diminuem para aqueles que decidem continuar. Ao chegarmos à oitava estação o céu abre, o vento para e as estrelas e lua aparecem. Aí sim vale uns minutos mais de parada para apreciar. Alias, são varias paradas pequenas de 03 a 05 minutos pelo caminho para respirar melhor.  As pessoas passam por você e você passa depois por elas. E daí, mais a frente elas te passam... e, no final, parecíamos velhos conhecidos, num cumprimento mais cordial e cotidiano de um dia qualquer. Ou melhor, de uma noite qualquer. A trilha noturna do Fuji-san lembra uma procissão com velas. As pessoas andam atrás umas das outras, em passos ora cadenciando para um ritmo mais lento, ora mais frenético... mas não há espaço para agitações. A cada estação uma parada para quem quisesse... fechada. Somente banheiro aberto... pago. Cheguei ao topo às 3h: 15min, com respiração um tanto ofegante, mas sem cansaço ou qualquer dor. A temperatura estava na média dos 03˚C negativos. As estrelas adornavam o céu e o vento resolveu voltar... gélido! Mas, afinal, eu havia chego, então, arrumei um lugar protegido do vento e literalmente, sob as estrelas e sobre pedras fechei os olhos por uns 45 minutos. Exatos 30 minutos após o sol começa a nascer em pleno pico do Fuji-san! Eram 4h: 30min e a temperatura se encontrava a 4˚C negativos. Como tinha gente para ver! O sol nascia e as pessoas o reverenciavam. Alguns de maneira singela, com olhar de embevecimento e um sorriso suave na face. Outros usam de expressões altivas, som alto da voz. Risos, lágrimas, idolatria. Senti-me um tanto quanto ‘um peixe fora d’água’. Sim, gostei de ter visto; foi bonito e grato este momento. Mas, foi mais um nascer do sol bonito. Isso. Depois de quase 1h: 30min observando este momento, começamos a nos dispersar e ver o que havia ao redor do local. Templo, cratera, placas, pedras, pedras, pedras... a descida comecei as 7horas da manhã, com o sol já alto. Aos poucos também outras pessoas foram descendo. Outro cenário se revela e requer da pessoa toda e qualquer atenção. Na verdade, isto é imperativo em tempo integral. Atenção! E olhar! Mas aqueles que apenas olham guardam a si sua segurança. Pois o cenário merece contemplação! Todo redor, em declive acentuado, é composto por larva vulcânica ressequida, transformada em arenito, areia, pedras, pedregulhos...de cores diferenciadas...e, de repente, uma suave camada de neve contrastando com o escuro. E de repente, de novo, uma flor, várias flores compondo um canteiro gigantesco de... arbustos floridos. As paisagens se revelam mais e diversas a luz do dia... assim como as pessoas, suas roupas, apetrechos de montanhismo, linguagem materna. Em meio da manhã, lá pelas 9h, a temperatura já apontava próxima a 28˚C, no mesmo lugar das baixas temperaturas da noite anterior. Agora as paradas estavam abertas. A cada parada um lanche, hidratação e descanso prévio de 10 a 15 minutos. Quase o mesmo da subida. A diferença ficou para mim, na descida. Senti muito mais que a subida. Embora fosse o mesmo local, o mesmo solo, a descida me pareceu mais arriscada e desafiadora que a subida, pois os escorregões foram alguns. O que me faz pensar que, às vezes, não ver, ou ter uma visão restrita pode ser um grande aliado, se o usarmos incorporado com outros sentidos que temos: tato, olfato, por exemplo! Cheguei à estação 5 ͣ exatas 14h, troquei de roupa e peguei o ônibus para voltar. Depois, a mesma quase rotina na volta... os trens, os sons, as paisagens, as pessoas...com uma diferença, alias três, o cansaço, a atenção e curiosidade das pessoas que se aproximavam para conversar sobre o bastão que eu trazia a mão (esqueci de mencionar, o bastão caminhante adquire e as estações carimbam sua ida ao monte Fuji). Dos mais jovens vinha à curiosidade; dos mais velhos era possível observar a emoção vinculada ao Monte Fuji-san e uma certa admiração e respeito por ver que a estrangeira estivera lá, especialmente que fora até o cume. Aqui no Japão, como em várias outras culturas, existe um ditado que todo japonês deve caminhar, ao menos, uma vez na vida ao topo do Monte Fuji.
O interessante é que o monte é uma montanha bela e de encantos como qualquer outra. Mas a imagem que se construiu sobre a montanha a partir da cultura e historia japonesa, tornaram-na poderosa, respeitada e famosa. Penso que as pessoas que têm o desejo de fazê-lo, assim como as que já passaram e passam ficam encantadas com o que veem não apenas pela beleza da paisagem, mas porque se superaram nos obstáculos, dificuldades e restrições [eu me coloco, agora entre essas]. Porque depois de um sofrimento, seja qual for sua natureza ou origem, o seu alivio é sempre bem-vindo! Isso tem vinculação direta com as raízes histórico-culturais e a filosofia de vida do Japão. Mas perceber isso é apenas um dado reflexivo; caso a subida e a descida do Fuji-san sejam tomadas apenas como uma aventura turística! E, também, um desperdício, em minha humilde compreensão. Além disso, os arredores do Fuji-san oferecem também experiências muito diferenciadas e tão belas e intensas quanto. Alias, é como outro pensamento que existe por aí que diz que o caminho pode ser muito mais gratificante do que atingir o objetivo.  
Mas não é imperioso escalar uma montanha, ou caminhar por longos caminhos, é possível que, guardadas as proporções, tenhamos elementos parecidos em nossa vida, e, se for o caso, que aprendamos a aproveitá-los. Que esse autoconhecimento não envolva necessariamente o abandono de nada em particular. Mas sim, a percepção genuína particular da responsabilização pelo próprio caminho. Os próprios olhos. O próprio coração. E as próprias pernas (pra chegar até lá, ou aqui). O pensamento que me está em alguns sites que participo me identificando, também é bem apropriado a esse momento: “Para nossas perguntas devemos nos tornar as próprias respostas... com o corpo, com a mente, com o espírito e com a ação” (K.Kushner). Eu mesma acredito que a sabedoria só aconteça quando a pessoa transforma e transporta o que viveu em sua prática de vida! 




outras informações sobre o Monte Fuji-san: